Prosseguimos a viagem virtual, que dessa vez nos levou não só a São Petersburgo, para as provas finais do Concurso Tchaikovsky, como também a Moscou, para  a cerimônia de premiação e o primeiro concerto dos vencedores em todas as categorias.

Continuo  abismada tanto pela tecnologia que nos carrega, como num tapete mágico, do Rio à Russia,  quanto pelo pináculo do talento e da arte alcançado por esses jóvens heróicos que chegaram à fase final do concurso. E não é apenas uma questão de talento, de musicalidade, de persistência e de uma vida dedicada ao estudo (e, segundo as más línguas, a especializar-se em concursos!). O que chama igualmente a atenção é a concentração e os nervos de aço desses músicos que são capazes de dar o melhor de si diante de júri e público, cientes do que o maior ou menor sucesso pode significar para seu futuro.

Continuei acompanhando os violoncelistas. Na final, tinham que tocar as Variações Rococó de Tchaikovsky e um concerto de sua escolha. Ouvimos assim seis vezes as Rococó, três vezes o Dvorák, duas vezes a Sinfonia Concertante de Prokofiev e uma vez o primeiro concerto de Shostakovich.  Não me queixo, muito pelo contrário, é fascinante e muito instrutivo o exercício de comparação. Além de revelar defeitos e qualidades dos intérpretes, e de enfatizar um pouco o lado Fla-Flu da competição, também permite surpreender-se com  novas facetas de obras que se pensava conhecer de cor e salteado!

Impossível, nessa situação, que a orquestra encarregada de acompanhar os candidatos (no caso da final de violoncelo, a Filarmônica de São Petersburgo) não se canse um pouco e não soe, depois de algumas vezes, um tanto ou quanto mecânica. E aínda mais regida, como foi, por um maestro de fisionomia e intenções  mais para burocráticas! A coisa mudou muito nos concertos dos premiados em que ouvimos a soberba orquestra do Teatro Mariinsky dirigida pelo magistral Valery Gergiev, mentor do concurso.

Observação para o anedotário, a cerimônia de entrega dos prêmios foi uma produção modelo Oscars, o que mostra que mesmo na música clássica, estamos na era do marketing. O que terá possivelmente a vantagem de manter viva a música clássica, mas a desvantagem de promover a grandes artistas músicos de talento duvidoso, mas de excelente tino comercial!

Não vou listar os premiados, já que o resultado final está ao alcance de todos pela Internet. Reservo meus comentários, pois, uma vez mais, ao concurso de violoncelo. Justíssimas as atribuições do primeiro (um violoncelista romeno de 21 anos, Andrei Ionut Ionita) e do segundo lugar (o russo Alexander Ramm, de 27), discutível para mim o terceiro lugar que teria dado não ao russo Alexander Buzlov, mas  ao jovem espanhol Pablo Ferrández Castro que ficou em quarto.  Mas como disse o  violoncelista Mischa Maisky, membro do júri, ao anunciar os resultados, os candidatos não devem ficar nem felizes demais, nem desapontados demais, pois uma vitória não conduz necessáriamente a uma grande carreira, nem uma derrota ao esquecimento, sendo ele próprio um exemplo, já que foi sexto colocado no Tchaikovsky e não passou das eliminatórias em dois outros concursos!